MAL ME QUER?
Parece que “todo mundo, e o mundo todo” (valeu Tutti!), começou a semana discutindo Otimismo versus Pessimismo. Na segunda, 11/07/2011, Lucy Kellaway, no Valor, e a Elaine Brum, na Época, cuja coluna foi disseminada no Facebook. Na terça, a Folha não deixou a desejar e fez uma ode ao pessimismo.
Tristeza e solidão, do Baden Powell. Só assim pra entrar no clima…
Na sequência, os artigos.
Um viva àqueles que veem o meio copo vazio o tempo todo
Nos negócios, o otimismo é bom e o pessimismo é ruim. O otimismo tem o monopólio do sucesso, da felicidade e até mesmo sobre a longevidade. Os pessimistas, com seus rostos longos e pensamentos obscuros, são párias, não servem para nada no entusiasmado mundo corporativo, exceto talvez para fazer carreira no jornalismo (onde notícias ruins são notícias boas). De outro modo, eles podem escolher entre a poltrona, o banheiro ou o circuito de comédia.
Mas agora o pessimismo pode estar voltando ao “mainstream”. A reviravolta ocorreu recentemente, quando o guru da administração Tom Peters comentou entusiasticamente no Twitter sobre um livro que enaltece o pensamento negativo. Trata-se de algo extraordinário para um homem cujo lema é um colorido ponto de exclamação e que, por décadas, vem se mostrando otimista da forma inflexível e cansativa. O fato do inventor do “Wow!” e do “Brand Me” estar agora se interessando pela negatividade é a coisa mais emocionante que tomei conhecimento em muito tempo.
Ao contrário de Peters, eu nasci pessimista. Sempre espero que um temporal súbito venha a estragar todas as festas de verão; sempre acho que toda iniciativa acabará em fracasso; pelo menos metade dos vestidos do meu guarda-roupa é da cor cinza. Não fosse pelo fato de que nunca comemoro nada antecipadamente, para o caso de não acontecer, eu estaria pulando de alegria com a ideia de que pessoas como eu serão reabilitadas.
Fui correndo averiguar o livro recomendado por Peters, escrito por Julie Norem, uma professora de psicologia do Wellesley College. Ela passou 18 anos fazendo uma pesquisa cuidadosa apenas para chegar à conclusão lógica – ainda que um tabu -, de que é uma boa ideia pensar em tudo o que pode dar errado antes de embarcar em qualquer coisa. Infelizmente, ela limitou seu alcance a pessoas que são ansiosas. Mas me parece que ela deu de cara com uma verdade com aplicação universal.
Numa infelicidade ainda maior, os editores disfarçaram a mensagem ligeiramente subversiva com um título estupidamente otimista: “The Positive Power of Negative Thinking: Use Defensive Pessimism to Harness Anxiety & Perform at Your Peak” (algo como “O Poder Positivo do Pensamento Negativo: Use o Pessimismo Defensivo para Controlar a Ansiedade & Melhore seu Desempenho”). Mesmo assim, Roma não foi destruída em um dia, e talvez a professora Norem tenha preparado o mercado o suficiente para a negatividade para o livro que eu mesma gostaria de escrever (se Peters não chegar lá primeiro). Eu poderia intitulá-lo: “Por que as Coisas Sempre Dão Errado no Trabalho e o que Fazer Quando Isso Acontece”.
O problema com os otimistas é que eles não se saem bem num mundo complicado. Nos campos de prisioneiros de guerra do Vietnã, os que morriam primeiro eram os que tinham pensamento positivo: eles realmente esperavam estar em casa no Natal e desmoronavam quando isso não acontecia. É claro que o mundo dos negócios não é exatamente como um campo de prisioneiros de guerra, uma vez que você pode sair para tomar um cafezinho e depois dormir no conforto de sua cama à noite. Mas ele pode ser cruel e impiedoso e uma coisa ruim pode acontecer após a outra. Estar sempre preparado para o pior me parece ser o único curso de ação inteligente. Woody Allen explica melhor: “Confiança é o que você tem antes de entender o problema”.
Muito embora uma reabilitação dos pessimistas seja bem-vinda, não há muito sentido em forçar a barra nos livros de autoajuda. Otimistas e pessimistas nasceram desse jeito; não há mudança que possa ser feita com uma ou duas dicas de um livro. A única mudança vem com o tempo, que tende a amenizar todos os extremos. Acho que sou um pouco menos pessimista do que há 30 anos, pois descobri que, de vez em quando, podemos muito bem ignorar as coisas. Os otimistas eventualmente descobrem o inverso – e talvez uma versão drástica disso tudo é o que está acontecendo com Tom Peters (que também deu para fazer comentários infelizes sobre Madre Teresa de Calcutá no Twitter, o que não é um bom sinal).
Em todo caso, é estupidez discutir qual é a melhor visão de mundo quando ambas claramente são necessárias o tempo todo. Toda organização e toda parceria deveria ser cuidadosamente balanceada para incluir os otimistas e os pessimistas. Um casamento também precisa dos dois – minha própria experiência me ensinou que é bom ter um otimista que apareça com intermináveis planos para passeios, e um pessimista para descartar as ideias mais malucas e temperar o resto com paracetamol e guarda-chuvas.
As empresas precisam dos dois ainda mais, para obter a mistura certa de ousadia e cautela. A diversidade de otimistas e pessimistas é a mais importante que existe e deveria ser ativamente perseguida nos conselhos e em todos os níveis inferiores. Os pessimistas corporativos deveriam ser desestigmatizados e chamados para fora do armário. Acima de tudo, eles deveriam parar de fingir que veem o copo meio cheio apenas para se enquadrar. Eles deveriam se orgulhar de declarar que, para eles, o copo estava meio vazio o tempo todo.
Lucy Kellaway é colunista do “Financial Times”. Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira.
Meu filho, você não merece nada
Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.
Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.
Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.
Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.
É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?
Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.
Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.
Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.
A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.
Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.
Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.
Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.
Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.
O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.
Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.
Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.
Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.
Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.
Eliane Brum escreve às segundas-feiras.
O otimista quebra a cara
Pesquisas da neurociência mostram que a confiança cega no amanhã pode gerar mais resultados negativos do que positivos
Ser otimista pode ser desastroso: a pessoa cria falsas expectativas, subestima riscos e se dá mal.
Mas não pensamos nisso. De acordo com as últimas descobertas da neurociência, somos mais otimistas do que realistas, o que não deixa de ser uma irracionalidade do cérebro.
O lado “dark” do pensamento positivo é objeto de estudo da neurocientista israelense Tali Sharot, que acaba de lançar o livro “The Optimism Bias -A tour of the irrationally positive brain” (o viés otimista, um tour pelo cérebro irracionalmente positivo), sem edição no Brasil.
Certo tipo de atitude esperançosa, tão incentivada pela cultura atual, “pode levar a enormes erros de cálculo e fazer com que as pessoas não façam exames de saúde, não apliquem protetor solar ou não abram uma poupança”, disse à Folha Sharot, que é pesquisadora da University College London.
Ela estudou como o viés positivo se forma no cérebro. Para isso, registrou as atividades de voluntários enquanto eles imaginavam eventos futuros e passados.
Descobriu que a maioria das pessoas, cerca de 80%, acha que o futuro será melhor. E muitas delas imaginam cenas hollywoodianas.
“Achamos que não vamos ter câncer, nos divorciar ou perder o emprego. E pensamos que vamos viver até 20 anos a mais do que a expectativa de vida.”
É como se as estatísticas não funcionassem em primeira pessoa. A explicação para o viés positivo é evolucionista: sem o otimismo, ninguém atravessaria a rua.
“É uma forma que a espécie encontrou para seguir em frente, enfrentar o presente e fazer a vida correr”, diz Roberto Lent, neurocientista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Para a neurologia, o otimismo é a formação de imagens mentais no cérebro, nas mesmas regiões em que ficam as lembranças. “A projeção do futuro é, muitas vezes, feita em comparação com o passado”, complementa Lent.
Já para a filosofia, o pensamento positivo pode ser visto como uma premissa, segundo Jorge Claudio Ribeiro, professor da disciplina na PUC de São Paulo.
“A fé é a atitude básica da vida humana. Se não temos fé, não comemos fora de casa e não bebemos água, porque pode estar contaminada. O otimismo vem antes da desconfiança.”
Segundo a terapeuta Dulce Critelli, o futuro pauta as ações do presente. “O homem não vive em função do que já foi ou já fez, mas do que pode ser. Marcamos nossas agendas para amanhã. Atravessamos a rua buscando algo que não temos.”
O problema (ou o risco) é que só é possível projetar o futuro por meio da fantasia. E daí a perder a mão e ser fantasioso demais é um pulo.
Lente cor-de-rosa
Ser muito otimista é como fugir da realidade, explica a psicanalista Giselle Groeninga, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
“Pode ser um mecanismo de defesa para evitar o sofrimento. A pessoa passa a viver num mundo de fantasia e, muitas vezes, para continuar nesse nível, falseia mais e mais a realidade.”
Trata-se de um otimismo não realista, vendido por muitos best-sellers que prometem pílulas de ânimo.
Para Critelli, é como se esses livros se aproveitassem do possível viés otimista descrito pelos neurologistas: quem acredita, compra.
Lidia Weber, psicóloga e professora da Universidade Federal do Paraná, diz que, apesar de ser uma forma de placebo (e placebo pode funcionar), o otimismo de autoajuda é alienante.
“Achar que podemos tudo é muito ingênuo. Podemos acreditar tanto que não faremos nada de fato.”
Ela é pesquisadora na área de psicologia positiva, ramo que procura prevenir, e não apenas tratar transtornos mentais.
A psicologia positiva surgiu há mais ou menos duas décadas com o pesquisador americano Martin Seligman. Para ele, o otimismo pode e deve ser aprendido -e isso não é autoajuda, diz Weber.
“O otimismo é fundamental. É como uma vacina contra problemas emocionais. Mesmo com o risco de alienação, prefiro o otimismo em excesso que o pessimismo.”
A neurocientista Tali Sharot afirma que grande parte das pessoas pessimistas (das 20% que sobram, já que 80% acreditam num futuro melhor) poderiam ser diagnosticadas com algum transtorno de humor. Mas, mesmo assim, ela acredita que até essas podem ter algum viés positivo.
Suicidas
Não há otimismo sem pessimismo, lembra Ribeiro. “Quem tem fé, tem dúvida. O otimismo se torna menos bobo se for provocado.”
Paulo de Tarso Lima, médico que atua na área de medicina integrativa e trabalha com pacientes que sofrem de câncer, reconhece que um pouco de pessimismo é fundamental no tratamento de doentes crônicos.
“Estar conectado com a realidade é a base do tratamento. Otimismo em excesso pode ser tão prejudicial quanto pensamentos negativos.”
Na psicanálise, pessimismo e otimismo são complementares. “Fazem parte da nossa leitura da realidade. Oscilamos entre os dois lados”, afirma Groeninga.
Neste contexto, ser pessimista deve ser entendido como ser realista, e não como desejar coisas ruins.
A filosofia também vê um lado bom no pessimismo e inverte a lógica pela qual o pensamento positivo é vendido como o segredo do sucesso.
Ao contrário: se formos menos otimistas, conseguiremos viver melhor, explica Deyve Melo dos Santos, professor de filosofia da Universidade Federal da Paraíba. Ele estudou a obra do romeno Emil Cioran (1911-1995). Para Cioran, são os otimistas que se suicidam. O pessimista não tem por que se suicidar, ele já sabe que o mundo não é bom. O otimista imagina um mundo perfeito e, quando acontece uma tragédia, ele não aguenta.
Pensar coisas ruins pode, então, baixar as expectativas.
“A realidade é uma só e é essencial para o futuro. Digo isso aos pacientes. Eles ficam melhores quando não pensam nem no pior nem no melhor”, diz Lima. Difícil é conseguir isso.
Juliana Vines, de São Paulo.