mar

24

INSTINTO MORAL

É, realmente, muito difícil lidar com nossos preconceitos. Hélio Schwartsman, na Folha.

Ragnarök, a danação de Thor

SÃO PAULO – Por que todos amam odiar Thor Batista? A resposta curta é: porque ele é podre de rico. Mais, desempenha com competência o papel de garoto mimado, que dirige carros estupidamente caros, enquanto vai distraidamente acumulando pontos em sua carteira de habilitação.

Já a explicação longa está enterrada bem no fundo de nossos cérebros pré-históricos, forjados numa época em que cada membro do bando era, ao mesmo tempo, um aliado indispensável e um concorrente impiedoso. Para navegar em meio a essa e outras ambiguidades sociais, acabamos desenvolvendo nosso senso moral.

Jonathan Haidt sugere que ele pode ser decomposto em seis sentimentos básicos: proteção, justiça, lealdade, autoridade, pureza e liberdade, que constituiriam uma espécie de tabela periódica do instinto moral. O mapa ético de cada indivíduo seria uma combinação de diferentes proporções desses “ingredientes”.

A revolta para com Thor se deve ao fato de que sua situação privilegiada (e que não é atenuada por “boas obras” como fazer filantropia) ofende nosso sentimento de justiça. O problema é que, como temos dificuldade para defini-la, recorremos a aproximações, às vezes esdrúxulas, como identificar o fraco a bom e o forte a ruim. Nietzsche explorou bem o que chamou de “moral do escravo”.

Quantos de nós já não nos pegamos torcendo pela débil seleção de Camarões contra a poderosa Alemanha? Basicamente, temos uma vontade irrefreável de “equilibrar o jogo”.

Não é preciso quebrar a cabeça para vislumbrar a utilidade do mecanismo. No passado darwiniano, quando ajudávamos o fraco a enfrentar um forte, livrávamo-nos de um rival ou, ao menos, contribuíamos para enfraquecê-lo. Foi nesse espírito que os gregos criaram o instituto do ostracismo, que agora consideramos cruel.

A questão é que, no mundo não pré-histórico de hoje, não deveríamos julgar pessoas com base em sentimentos, mas apenas em evidências.

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fev

09

SERENDIPITY

Retomando as atividades… muitas coisas espalhadas por aqui, se perdendo e envelhecendo esquecidas. Por isso, vale o recomeço pelo acaso.

Essa despedida da coluna dominical do Gilberto Dimenstein, em 27 de novembro de 2011, fala dessas coisas que acontecem por aí. E mudam tudo.

Minha palavra mais bonita

Não conheço nenhuma palavra mais bonita do que “serendipity”. Por isso, vou usá-la na minha despedida deste espaço, que, a partir de hoje, deixa o papel e migra para a edição digital do jornal.

Inventada por um inglês, em 1754, que se inspirou numa lenda persa, “serendipity” é uma palavra impossível de ser traduzida para outros idiomas num único termo.

Superficialmente, ela significa o prazer das descobertas ao acaso. Um velho amigo encontrado numa inóspita cidade estrangeira, os acordes de um violino tocado em um parque numa tarde de outono, uma súbita paisagem de uma praia que aparece quando caminhamos numa mata fechada.

Um encontro amoroso no final da madrugada, quando já estávamos conformados de ficar sozinhos ou um prato feito com ingrediente exótico num improvável restaurante de beira de estrada.

Mas o significado profundo de “serendipity” vai além do imprevisto. É o encanto da transformação dos acasos em aprendizagem. O bacteriologista Alexander Fleming viajou de férias e se esqueceu de guardar os pratos em que fazia experiências para curar infecções. Um fungo caiu do teto em um desses pratos. Descobriu-se o antibiótico. Se o tal fungo não tivesse caído na frente de um bacteriologista atento, seria apenas um bolor inútil.

Por trás da palavra, existe a ideia de que o melhor da vida é a aventura do aprender pela experiência -o que compensaria os riscos e a dor provocada pelos sucessivos erros.

A Folha é meu “serendipity”. Investiguei as mais variadas modalidades de corrupção, o assassinato de crianças, a exploração sexual de meninas, os personagens invisíveis que habitam as cidades. Os cenários iam da cracolândia, em São Paulo, aos morros do Rio, ao Harlem, em Nova York e às favelas da Índia ou da Colômbia, passando pelos gabinetes refrigerados de Brasília e, neste momento, pelos centros de pesquisa de Harvard e do MIT. Ganhei todos os prêmios possíveis como jornalista e escritor, o que é ótimo para o ego, é claro, mas o que sobrou mesmo foi a emoção da descoberta.

Nesse meu flanar, fui fisgado por um encontro casual, que me tirou da segura e previsível rota do jornalismo. Passei a me emocionar não só com o furo, mas com a comunicação, especialmente com seus recursos digitais para a aprendizagem e com o engajamento comunitário. É um olhar arriscado: não só assistimos ao jogo para descrevê-lo. Somos também jogadores. Em meio a uma efervescente polêmica sobre os limites da objetividade, estudiosos da mídia dos Estados Unidos batizaram, com diferentes nomes, esse olhar de jornalismo: “civic”, “public” ou “community”. No Brasil, a tendência ganhou o nome genérico de “educomunicação” e virou curso de graduação na USP.

Ao morar em Nova York e voltar para São Paulo, apaixonei-me pela possibilidade de usar os recursos digitais para ajudar a fazer das cidades uma experiência educativa. As cidades são o melhor meio de comunicação já inventado: um ponto de encontro e difusão das informações.

Confesso que, nessas experimentações entre comunicar e educar, não sabia mais direito o que eu era ou o que eu fazia. Foi o que me levou a aceitar o convite para participar de uma incubadora de projetos em Harvard. Vim aqui para ficar seis meses. O projeto estendeu-se por mais seis meses e, agora, vai até o final de 2012, embora eu possa ficar parte do tempo em São Paulo, desenvolvendo o projeto de jornalismo comunitário em colaboração com o Media Lab (MIT).

Nesse flanar por outros caminhos, tornei-me dispensável -dispensável e caro- para versão impressa do jornal, obrigado a lidar com os crescentes desafios da mídia no papel.

Mas aí está a dor e a delícia do “serendipity”: para viver experiências, sempre estamos nos despedindo de alguma coisa de que gostamos.

PS – Aproveito esta despedida da versão impressa para dizer publicamente o que tenho falado privadamente. Não fosse Otavio Frias Filho, disposto a apoiar tantas experiências por tanto tempo, eu não teria tantas histórias para contar.

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ago

25

DELEUZE

“É como se a compreensão fosse um nível de leitura”. Discussão bonita sobre a filosofia, mas que se aplica perfeitamente ao universo da comunicação.

Encontrado no interessante Filosofia do Design. Faz parte de um artigo curioso acerca da matéria “design conceitual”. Vale a leitura.

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jul

26

W/

Tão boa a entrevista, que nem precisava dos jornalistas. Passeou por vários temas, explorando muito bem esse mundinho da publicidade. Uma lenda: Washignton Olivetto, no Roda Viva de 18/07/11.

Bloco 1:

Bloco 2:

Bloco 3:

Bloco 4:

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jul

19

A LINGUAGEM DAS COISAS

Melhor leitura de 2010, o livro de Deyan Sudjic, diretor do Design Museum, é um convite a diferentes reflexões. Passeando pela história dos objetos, a narrativa é estruturada em cinco grandes áreas: Linguagem; O design e seus arquétipos; Luxo; Moda; e Arte. Livro indispensável, com uma leitura fluida e agradável.

Na época do lançamento, várias críticas, entrevistas, artigos foram divulgados. Disponibilizo uma seleção interessante, que complementa e aprofunda a discussão.

Começando por uma entrevista dada ao Silio Boccanera, no Programa Milênio, da Globo News, em 12/07/2010.

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jul

11

PASSAGENS, PAUSAGENS:

PAISAGENS.

Lindíssimo e muito relevante o projeto do professor Paulo Baptista, da EBA-UFMG. Como diz a reportagem, o trabalho propõe uma interface entre tecnologia, ciência e imagens para retratar mudanças na natureza. Vale a leitura. Se o assunto interessa, explore também o projeto Third View, do fotógrafo Mark Klett.

Clique na imagem para ampliar.
Via Jornal Estado de Minas, 27/04/2011.

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jul

10

CÉREBRO DE PIPOCA

Coluna do Dimenstein, dia 03/07/2011, na Folha:

O GOOGLE anunciou na semana passada um projeto para enfrentar o Facebook, disposto a reinventar a mídia social. A notícia teve óbvio impacto mundial e despertou a curiosidade sobre mais uma rodada de inovações tecnológicas, capazes de nos fazer ainda mais conectados.

No dia seguinte, porém, o Facebook reagiu e anunciou para esta semana uma novidade também de grande impacto, possivelmente em celulares. Para alguns psicólogos americanos, esse tipo de disputa produz um efeito colateral: um distúrbio já batizado de “cérebro de pipoca”.

Esse distúrbio é provocado pelo movimento caótico e constante de informações, exigindo que se executem simultaneamente várias tarefas. Por causa de alterações químicas cerebrais, a vítima passa a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e de lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. É como se as pessoas tivessem dentro da cabeça a agitação do milho explodindo no óleo quente.

A falta de foco gera entre os portadores do tal “cérebro de pipoca” um novo tipo de analfabetismo: o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, o que torna complicado o relacionamento interpessoal.

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