PdQ Kite House

Dois amigos mineiros se associam para construir uma casa de praia. Seja um paradoxo, uma fina ironia ou o princípio de uma velha piada, foi assim mesmo que o convite para participar do projeto da PdQ Kite House chegou até mim.

Na realidade, eles se mudaram com a família para São Luís, no Maranhão, por motivações profissionais. Por lá, descobriram a prática do kitesurf. E se tornaram adeptos amadores. A região é reconhecidamente propícia à tal prática esportiva, dadas as características e qualidade do vento e da topografia.

Daí ao encontro de um espaço no simpático vilarejo de Tutóia, foi um salto. Terreno adquirido, etapas construtivas planejadas, materiais e técnicas consolidadas dentro do escopo do projeto residencial.

Daquilo que poderia servir apenas ao usufruto eventual e particular dos sócios, foi convertido em oportunidade de negócio: os chalés possuiriam características muito especiais para que permanecessem ociosos por longas temporadas.

Neste contexto, fui convidado: proporcionar, digamos, uma abordagem comercial para o empreendimento, viabilizar divulgação interessante no Instagram e locação via Airbnb. De princípio, mais do que branding, place branding ou qualquer outra matéria do gênero, acreditava que o projeto demandava a tradução de um lifestyle. Com uma responsabilidade socioambiental extra: enquanto pioneiros, investindo e desbravando a região, seria relevante pensar na articulação com a vocação turística de Tutóia: respeito ao entorno e à comunidade local.

O nome, que revela as origens, chegou dado: Pão de Queijo Kite House. O meu entendimento seguiu simplesmente para a decomposição e busca de traduções visuais coerentes com as principais características do lugar: o vento, o sol, a água, a areia e o nada, inóspito e paradisíaco.

Uma característica arquitetônica – em conjunto com a constatação das piruetas formais do p, d e q – deu a chave para o desenho: em função do dinamismo da maré, capaz de alagar em certos períodos todo o lote, além da intensidade eólica sobre a areia, a casa foi construída suspensa, deslocada do solo.

Pois procurei tensionar ainda mais essa possibilidade, ressaltando a razão de ser do empreendimento: a prática do kite. Nisto, a própria casa se assume vela, ganha motilidade para abrigar a respectiva alcunha. Tudo de modo leve, solto, sucinto, rústico e performático (como não poderia deixar de ser). Para conferir autonomia e praticidade, o sistema foi inteiramente pensado utilizando recursos disponibilizados pelo Google.

Inaugurado, o espaço tem sido uma curtição e um sucesso. A taxa elevada de ocupação acarreta uma dificuldade bem-vinda para os próprios sócios encontrarem datas disponíveis para usufruir dos chalés. Vale a pena seguir a PdQ Kite House no Instagram, reservar uns dias para estadia no Airbnb, colocar as asas e levantar voo.

(Projeto de 2020)