Re/vis-à-vis/ta.
A lida cotidiana do design gráfico.
Por óbvio, não deixaria escapar a oportunidade de pensar o projeto gráfico da minha própria dissertação. Foi uma forma de interpretar os princípios da ABNT, respeitando, acima de tudo, os cânones do design gráfico.
A pesquisa procura justamente as inter-relações entre design gráfico e cultura. Como um projeto de design gráfico é capaz de contribuir para o desenvolvimento das múltiplas inteligências humanas. Portanto, muito daquilo que defendo discursivamente procuro encontrar uma melhor tradução gráfica. Como objeto empírico, analiso a serrote, projeto que considero um dos mais relevantes, instigantes e instrutivos da atualidade. A serrote é uma revista de ensaios, artes visuais, ideias e literatura editada pelo IMS – Instituto Moreira Salles. O designer gráfico responsável é o Daniel Trench. Vale muito a pena conhecer os trabalhos de ambos e acompanhar as edições da publicação periódica.
É estranhíssimo exercer o papel de designer-autor. Isto é, ser o designer de um conteúdo próprio. Por outro lado, a liberdade é ilimitada, bastando o projeto ter coerência com os valores subjetivos. As restrições – além das regras da ABNT – residem nos custos de produção. Foram impressos apenas cinco volumes (três para os membros da banca, um para o orientador do projeto e um para mim). Daí que a falta de escala eleva o custo unitário e a necessidade de encontrar alternativas artesanais para o acabamento.
Tecnicamente, procurei trabalhar um grid assimétrico, branco generoso em todas as páginas, o papel com a gramatura um pouco mais elevada para enriquecer a experiência de leitura. A encadernação utiliza a costura japonesa com a linha na cor verde. A cor foi premeditada: como a discussão me é muito cara, gostaria que ela se desenvolvesse com força e resistência, tal qual aquelas plantinhas que furam o asfalto para florescerem.
Sempre soube que, no dia que finalizasse a dissertação, a montagem ficaria sob a responsabilidade da Cau, na Frente Verso. Fico satisfeito por ter conseguido e orgulhoso pelo talento, carinho e artesania dispensados, tanto pela Cau quanto pela Lais, no acabamento e, inclusive, pelas fotos aqui disponibilizadas.
Esse projeto foi premiado na categoria “Trabalhos Escritos Não Publicados” do 31º Prêmio Museu da Casa Brasileira. O parecer da comissão julgadora, que transcrevo a seguir, me deixou imensamente orgulhoso.
“O autor se propõe a discutir o design como vetor de informação e conhecimento. A partir de boas referências e citações desenvolve um texto fluído sobre o papel do design gráfico na construção da cultura contemporânea onde a visualidade é proeminente. É um trabalho aplicado, que oferece rico panorama de reflexões de pensadores, de Benjamin a Flusser, de Eagleton a Certeau, presente em todo o conteúdo verbal, e, a proposta de evidenciar alguns dos inúmeros nexos entre design gráfico e cultura, é sem dúvida generosa.
A prodigalidade de textos lidos e citados expõe a quantidade e qualidade de pesquisa do autor, que desenvolve um texto fluído sobre o papel do design gráfico na construção da cultura contemporânea. A revista Serrote é adotada como case e analisada como objeto empírico, buscando correlação entre o design gráfico e o desenvolvimento do pensamento, visando evidenciar que experiência no uso dos artefatos promove, dentre outros, a apropriação, compatibilização, articulação e metamorfose dos sentidos configurados no projeto, conforme os objetivos propostos no mestrado.”
A pesquisa foi orientada pelo eminente e querido professor Paulo B. Se desejar saber mais sobre o projeto de dissertação ou se o assunto interessar, o arquivo está disponibilizado para download [pdf].