Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: Sinalização da Sala Minas Gerais

O ESPAÇO

Nenhum exagero afirmar que a Sala Minas Gerais é uma das mais relevantes obras culturais das últimas décadas no Brasil. À Greco Design coube o desenvolvimento do projeto de sinalização de todo o complexo, que ainda conta com a sede da Rede Minas, da Rádio Inconfidência e um centro gastronômico.

Um projeto arquitetônico monumental da Jô Vasconcellos, que não só soube conduzir como potencializar o que, modestamente, pudemos oferecer. A Sala Minas Gerais é uma sala de concertos, nova sede da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. O espaço dispõe de tecnologia e conforto em pé de igualdade com os melhores espaços do gênero no mundo.

O PROJETO DE SINALIZAÇÃO

Acompanhamos toda a construção do complexo em que a Sala Minas Gerais se localiza. A pesquisa envolveu aprofundamento no estudo das estruturas e materiais que compõem o universo das orquestras e das salas de concertos. Depois de acompanhar os ensaios da Filarmônica de Minas Gerias, entender os componentes que regem uma orquestra, frequentar os concertos que ocorriam no Palácio das Artes e em praças abertas de Belo Horizonte, decidi que era o momento de fazer uma imersão na Sala São Paulo, espaço revitalizado e adaptado para abrigar a Osesp. A Sala São Paulo também é imponente, fantástica, e trouxe muita informação útil para ser aplicada no projeto em desenvolvimento.

Já no avião de volta para BH, intuía que os modos de uso dos materiais seriam o grande diferencial deste projeto. Uma sala de concertos é minuciosamente imaginada em termos materiais. Poltronas e pisos que não reverberam, tetos móveis para afinar o tom de acordo com o espetáculo, paredes especialmente preparadas para fornecer isolamento acústico, colunas e curvas em pontos estratégicos para não interferirem na qualidade artística da orquestra.

Os instrumentos musicais me mostraram o latão, material resistente e de uma beleza ao mesmo tempo singular e clássica. Um livro que eu adoro, Phaidon Design Classics, escancarou aquilo que desejava. Uma empresa sueca, Offecct, produz painéis acústicos. Com uma diferença: eles pensam o painel para compor o ambiente, isto é, para fora da parede. São formas exuberantes, desenhos incríveis. Percebemos especificamente um modelo – Soundwave Bella  – como muito apropriado e em correspondência com a arquitetura da Sala. Pensamos que seria significativo promover um deslocamento semântico do material, o utilizando como base estrutural para a comunicação visual.

Os pictogramas foram modelados em harmonia com o desenho arquitetônico, com cortes secos, postura elegante, de gala. O desenho da Meta, de Erik Spiekermann, evoca conceitos compatíveis com o projeto e, por isso, a família tipográfica se mostra apropriada. Foi escolhida e trabalhada em acordo com as necessidades dos textos.

A PRODUÇÃO

Os equipamentos indicativos da área de público utilizaram um processo de fundição, em latão, que em nada diferencia de uma produção análoga medieval. A fundição do latão, reconheço, foi uma das experiências mais incríveis e inusitadas que já enfrentei. Quem acompanha o processo se encanta. Um trabalho artesanal, completamente determinado pelos acasos. Já para as áreas de backstage, não poderíamos utilizar nenhum material pontiagudo ou que oferecesse quaisquer riscos para os membros da orquestra. A justificativa, relevante, é que a os músicos e as musicistas devem ser preservados dos imprevistos que, por ventura, possam vir a acometê-los. Não seria nada interessante a sinalização rasgar a roupa de uma violoncelista minutos antes dela subir ao palco, não é mesmo?! Por isso, nas áreas internas e administrativas, utilizamos mantas de feltro, com um processo de impressão adaptado especialmente para a especificidade do material.

Corremos os riscos de apresentar um projeto extremamente ousado, com um bom grau de originalidade. A equipe da Filarmônica carrega uma energia positiva, alto astral, encara tudo de maneira profissional e se mostrou aberta aos riscos. Depois de aprovado, fomos correr atrás de viabilizar tudo. Entramos em contato com a Offecct, que nos informara que não havia precedentes na impressão sobre o painel. A dificuldade principal é o que o material não é plano, o que inviabiliza grande parte dos processos de impressão. Tivemos que pensar e improvisar com o nosso fornecedor uma maneira de realizar a pintura, aparentemente um procedimento pioneiro no mundo.

Como se os desafios já não fossem suficientes, ainda precisávamos lidar com mais uma restrição. Nenhuma parede poderia ser perfurada para fixar os equipamentos, sob o risco de prejudicar a qualidade acústica da Sala Minas Gerais. A persistência nos indicou o velcro, material que guarda uma inteligência que muitas vezes não paramos para pensar. Os testes e a posterior instalação nos levam a concluir que é uma excelente solução. Além de ser limpa e segura, permite a substituição de forma prática e eficiente.

Pode ser um dia de sorte. Ou um instante em que algumas pessoas transmitem a confiança que você precisa para seguir adiante. Agradeço à Jô, parceira de muitos encontros. Sei que sem o aval da equipe do Instituto Cultural Filarmônica o projeto não seguiria adiante. Não me esquecerei das inúmeras consultorias com o Eduardo Swerts – talentoso violoncelista membro da Filarmônica –, amigo querido, sempre de prontidão para os meus infinitos questionamentos. Obrigado, Rafa Motta, pela maior parte das fotografias aqui registradas. E aos indispensáveis Gustavo Greco, Tidé, Flávia Siqueira, Joca Corsino, Bruno Nunes, Victor Fernandes, Alexandre Fonseca, Marden Diniz, por fazerem emergir um conhecimento que eu não tinha. Ou, pelo menos, nunca havia imaginado possuir.