Palíndromo #4.
Zé de Lima, rua Laura, mil e dez.

A Palíndromo é uma publicação editada pela Rona Editora. Com periodicidade anual, explora um determinado tema a partir de diversas perspectivas, tais como fotografia, design gráfico, publicidade, arte, literatura. Em todas as edições, a Greco Design e a Rona organizam o processo, convidam colaboradores e produzem a revista.

A partir da definição do tema e do formato dos cadernos, cada colaborador tem total liberdade de criação e interpretação. A edição de número 4 trabalha o tema “espaço”. Os cadernos tiveram livre inspiração no formato dos jornais impressos, talvez um dos artefatos em papel que mais ocupam espaço na nossa vida cotidiana.

Vale notar que a publicação procura testar e exceder os limites de capacidade da Rona, trazer algo de experimental. Funciona não só como um portfólio institucional, mas também como um modo de envolver e gerar aprendizado para toda a equipe da empresa.

Sob a minha responsabilidade direta, nesta edição, recaíram o projeto para a embalagem e o caderno de produção gráfica. A embalagem é relativamente simples. Procura ser performática no ato de abertura, brinca com a capacidade do papel se expandir a partir de uma estrutura em sanfona, tal qual uma pasta de documentos.

PRODUÇÃO GRÁFICA

O caderno que explora o tema espaço sob a perspectiva da produção gráfica já é mais melindroso. Trabalhei com colaboradores de diferentes setores da gráfica. A ideia de trazer esses funcionários para dentro da criação do caderno foi uma demanda espontânea dos próprios profissionais, que consideramos autêntica e reveladora. E deliberamos, juntos, que seria interessante explorar o tema discutindo o controle no espaço gráfico.

Grosso modo, uma gráfica offset trabalha visando a perfeita reprodutibilidade técnica de um projeto. As variações e os acasos são considerados erros a serem combatidos. E se invertêssemos tal lógica e pensássemos num projeto que subverte essa noção? Foi assim que chegamos à ideia de trabalhar distintas perspectivas em relação ao funcionamento das cores. Para tanto, selecionamos a cor branca, a hexacromia e a tonalidade preta.

Foram criados três cartazes, que exploram o acaso e as minúcias técnicas que envolvem um projeto de design gráfico. O branco foi impresso com tinta branca, jogando luz sobre os limites da legibilidade. E antes de ser embalado sofreu um processo de esmagamento manual, o que revela tonalidades da cor branca, distintivas a partir das diferentes intensidades de sombra sobre o papel.

No cartaz da hexacromia, na esteira da Copa do Mundo de futebol realizada no Brasil, pretendíamos peças únicas, com diferentes variações em cada uma. Um “erro” que deu completamente errado. A máquina é tão perfeitamente calculada para repetir que, mesmo misturando seis cores em um mesmo castelo de tinta, o resultado do degradê é praticamente idêntico e invariável.

Em relação ao dedicado à tonalidade preta, considero o resultado dos mais memoráveis. Nenhuma surpresa que a indústria oferece uma ampla variedade de tonalidades dentro de uma mesma cor. No caso da preta, selecionamos 18 para demonstrar as nuances de cada uma delas. Para tanto, utilizamos uma zebra, indicando em cada listra uma determinada variação da cor. Quem já acompanhou um processo produtivo dessa natureza entende que é uma tarefa das mais audaciosas imprimir em 18 cores. E para complicar um pouco mais, a pata da zebra foi executada em hot stamping (preto!). O resultado, ao vivo, é muito bonito e curioso. Causa perplexidade constatar que aquilo que chamamos cor preta não é assim tão determinada como poderíamos imaginar.

O crédito de grande parte dos registros fotográficos é do Rafa Motta. Lembro que, dada a natureza colaborativa do projeto, muitas pessoas de diferentes expertises e lugares – Greco, Rona, os profissionais convidados – se envolvem e fazem um produto tão interessante vir à tona. É muito bom participar de um projeto com esse caráter. Lembro, especialmente, das muitas noites e madrugadas na companhia do Allan Alves – produtor gráfico – na Rona para viabilizar e executar todo o projeto. São momentos exaustivos, mas de grande aprendizado e motivação. Guardo uma lembrança persistente: dada a complexidade e especificidade de cada caderno, enquanto algumas máquinas do parque gráfico produziam um milhão de caixas de medicamentos, nossos cadernos não conseguiam alcançar a marca das 500 unidades impressas. E isso significava orgulho e satisfação: mesmo que não fosse, propriamente, uma luta contra as máquinas, tínhamos a certeza de que estávamos vencendo.